ESTUDO SOBRE DONS
1- Operações de DEUS (DONS)
E há
diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.(I Co
12:6)
E a uns
pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em
terceiro mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar,
socorros, governos, variedades de línguas.(I Co 12:28)
De modo
que, tendo diferentes dons segundo a graça que nos foi dada, se é profecia,
seja ela segundo a medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é
ensinar, haja dedicação ao ensino; ou que exorta, use esse dom em exortar; o
que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com zelo; o que usa de
misericórdia, com alegria. (Rm 12: 6-8) Deus pode usar animal para falar, como
fez com a jumenta de Balaão ou usar um descrente para glorificá-lo, com fez com
Nabucodonosor; Deus usa a quem quer e da maneira que quer.
2-
Dons de Cristo(Ministérios):
E ele deu uns como apóstolos, e outros como
profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres.(Ef
4:11); são pessoas dadas à Igreja, para orientá-la e guiá-la fazendo-a crescer.
Para edificar e fortalecer a noiva de CRISTO, que é a Igreja. Assim como no
corpo humano temos cinco sentidos (olfato,visão,tato,paladar e audição), assim
também no corpo de CRISTO, na terra tem cinco ministérios.
3- Dons do Espírito Santo(Manifestações
= mostrar realmente a presença de DEUS):
A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum.
Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; a outro, pelo mesmo
Espírito, a palavra da ciência; a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; a outro,
pelo mesmo Espírito, os dons de curar; a outro a operação de milagres; a outro
a profecia; a outro o dom de discernir espíritos; a outro a variedade de
línguas; e a outro a interpretação de línguas. Mas um só e o mesmo Espírito
opera todas estas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer.
Para estudá-los dividimos em.
4- DONS DE REVELAÇÃO - DONS DE
PODER - DONS DE INSPIRAÇÃO.
4.1- DONS DE REVELAÇÃO (REVELAM
ALGO OCULTO OU DESCONHECIDO SOBRENATURALMENTE).
4.1.1.
Palavra de sabedoria:
Palavra= pequena parte da sabedoria de DEUS; acontecimento futuro, só Deus
sabe; tem a ver com onisciência.
Ex:Jesus:
"Daquele dia e hora, porém, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o
Filho, senão só o Pai. Pois como foi dito nos dias de Noé, assim será também a
vinda do Filho do homem.Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio,
comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na
arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos; assim
será também a vinda do Filho do homem. Então, estando dois homens no campo,
será levado um e deixado outro; estando duas mulheres a trabalhar no moinho,
será levada uma e deixada a outra. Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia
vem o vosso Senhor; sabei, porém, isto: se o dono da casa soubesse a que
vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua
casa. Por isso ficai também vós apercebidos; porque numa hora em que não
penseis, virá o Filho do homem." (Mt 24: 36-44)
Paulo:
"34 Rogo-vos, portanto, que comais alguma coisa, porque disso depende a
vossa segurança; porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós."
(At 27:34).
4.1.2. Palavra de conhecimento ou da ciência:
Palavra =
pequena parte do conhecimento de DEUS, revelação de coisa conhecida; tem a ver
com onipresença. (pode ser coisa conhecida por pessoas em outra parte ou
localidade, que é revelada aqui onde estamos).
Ex:
Jesus: "Mas Jesus logo percebeu em seu espírito que eles assim arrazoavam
dentro de si, e perguntou-lhes: Por que arrazoais desse modo em vossos
corações?" (Mc 2:8)
Jesus: Jo
1.48 Perguntou-lhe Natanael: Donde me conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes que
Felipe te chamasse, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira.
Paulo:
"Eis aqui vos digo um mistério: Nem todos dormiremos mas todos seremos
transformados"(I Co 15:51).
4.1.3. Discernimento de espíritos:
Saber de onde vem e o que está operando numa pessoa.
Ex:
Jesus: "E Jesus, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Filho, perdoados
são os teus pecados."(Mc 2:5)
Paulo:"
E fazia isto por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao
espírito: Eu te ordeno em nome de Jesus Cristo que saias dela. E na mesma hora
saiu."(At 16:18).
4.2- DONS DE PODER (DÃO PODER
PARA SE FAZER ALGO SOBRENATURAL).
4.2.1. Fé:
Para crer no impossível (temos fé natural, sobrenatural e espiritual),
precisamos de fé para comer (pode estar envenenado), para andar no meio da rua
(pode ser atropelado), para viajar de avião (pode cair), para adorar a DEUS
(Não estamos vendo-o), para crer em milagres sem os ver. Don de fé é acreditar
que o impossível de acontecer já aconteceu. É impossível que alguém que já
morreu torne a viver.
Ex:
Jesus: "E, tendo dito isso, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora!(Jo
11: 43)
Paulo:
"Tendo Paulo descido, debruçou-se sobre ele e, abraçando-o, disse: Não vos
perturbeis, pois a sua alma está nele."(At 20:10)
NASCERIA UM FILHO DE UM CASAL EM QUE O HOMEM TEM 100 ANOS E A MULHER 90 ANOS?
ABRAÃO CREU ASSIM MESMO. PODERIA ALGUÉM MATAR UM FILHO E DEPOIS VOLTAR PARA
CASA COM ESTE FILHO VIVO? ABRAÃO CREU; POR ISSO FOI JUSTIFICADO PELA SUA FÉ EM
DEUS.
4.2.2.
Dons de curar:
Dons no plural, alguns são usados para certos tipos de doenças, NENHUMA PESSOA
É USADA PARA CURAR TODOS OS TIPOS DE DOENÇA.
Ex:
Jesus: "Mas ele, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem que tinha
a mão atrofiada: Levanta-te, e fica em pé aqui no meio. E ele, levantando-se,
ficou em pé."(Lc 6:8)
Paulo:
"Aconteceu estar de cama, enfermo de febre e disenteria, o pai de Públio;
Paulo foi visitá-lo, e havendo orado, impôs-lhe as mãos, e o curou."(At
28:8); "Erasto ficou em Corinto; a Trófimo deixei doente em
Mileto."(2Tm 4:20). PAULO NÃO CUROU SEU COMPANHEIRO TRÓFIMO.
4.2.3.
Operação de maravilhas:
Mudança na natureza, MUDA O QUE ERA NATURAL.
EX. PARAR
O SOL (JOSUÉ) - VOLTAR DEZ GRAUS O TEMPO (ISAÍAS)
Ex:
Jesus: "Dito isto, cuspiu no chão e com a saliva fez lodo, e untou com
lodo os olhos do cego, e disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que
significa Enviado). E ele foi, lavou-se, e voltou vendo."(Jo 9:6,7)
Paulo:
"Mas ele, sacudindo o réptil no fogo, não sofreu mal nenhum."(At
28:5).
4.3- DONS DE INSPIRAÇÃO OU DA
FALA (DIZEM ALGO DE SOBRENATURAL).
4.3.1.
Profecia:
Pode vir de 3 fontes: Deus, homem e satanás. Devem
ser julgadas (1 Ts 5:21,22) e controladas para haver ordem no culto; um depois do outro e no
máximo três em cada reunião (1 Co 14.31). Não devem ser desprezadas(1 Ts
5:20). Vêm para edificação, exortação e consolação(1 Co 14:3).
Línguas + Interpretação = Profecia (1 Co 14:27,13). Diferente de profeta, todo
profeta profetiza, nem todo que profetiza é profeta (1Co 14:31) e (Ef 4:11)
Profeta é ministério dado por CRISTO, profecia é manifestação do ESPÍRITO
SANTO. Profeta prediz alguma coisa que ainda vai acontecer, profecia não prediz
nada. Todos podem profetizar (1 Co 14.31), mas poucos são chamados para serem
profetas.
Ex:
Jesus: "Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas eu vos
tornarei a ver, e alegrar-se-á o vosso coração, e a vossa alegria ninguém vo-la
tirará."(Jo 16:22).
Paulo:
"disse Paulo ao centurião e aos soldados: Se estes não ficarem no navio,
não podereis salvar-vos. Então os soldados cortaram os cabos do batel e o
deixaram cair. Enquanto amanhecia, Paulo rogava a todos que comessem alguma
coisa, dizendo: É já hoje o décimo quarto dia que esperais e permaneceis em
jejum, não havendo provado coisa alguma. Rogo-vos, portanto, que comais alguma
coisa, porque disso depende a vossa segurança; porque nem um cabelo cairá da
cabeça de qualquer de vós."(At 27:31-34).
4.3.2.
Variedade de línguas:
4 tipos
de línguas: Não proibais falar em línguas; é ordem de DEUS (1 Co 14.39).
4.3.2.1.
Língua para oração:
"Porque
se eu orar em língua, o meu espírito ORA BEM, mas o meu entendimento fica
infrutífero."(I Co 14:14). Você quer orar bem? Veja também em Rm 8.26 que não
sabemos pedir como convém, mas o ESPÍRITO SANTO sabe o que precisamos e ELE
sabe pedir.
Fala com
Deus: "Porque o que fala em língua não fala aos homens, mas a Deus; pois
ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios."(I Co 14:2). Por
isso é tão combatido o falar em línguas, pois nem Satanás entende.
Edificação
própria: "O que fala em língua edifica-se a si mesmo, mas o
que profetiza edifica a igreja."(I Co 14:4)
Você quer ser edificado? "Mas vós, amados, edificando-vos sobre a
vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo,"
Jd.20 (orar no ESPÍRITO, não quer dizer orar em pensamento).
4.3.2.2.
Língua para interpretação:
"Todos
têm dons de curar? falam todos em línguas? interpretam todos?"(I Co
12:30), nem todos recebem; "Que fazer, pois? Orarei com o espírito, mas
também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei
com o entendimento."(I Co 14:15). Falam em línguas todos? Quer dizer em
línguas para interpretação, ou seja, nem todos têm o dom de línguas, mesmo
sendo batizados. Essa linguagem pode ser interpretada pelo que fala ou por
outrem.
4.3.2.3.
Língua como sinal para incrédulo:
"De
modo que as línguas são um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos;
a profecia, porém, não é sinal para os incrédulos, mas para os crentes."(I
Co 14:22); estrangeiros ouvem em sua própria língua, ex: "Ouvindo-se,
pois, aquele ruído, ajuntou-se a multidão; e estava confusa, porque cada um os
ouvia falar na sua própria língua."(At 2:6). Pode alguém ser usado para
falar, por exemplo em alemão em algum lugar e uma pessoa presente alí, que fala
alemão entenderá tudo o que DEUS quer falar-lhe.
4.3.2.4.
Gemidos inexprimíveis:
" Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não
sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por
nós com gemidos inexprimíveis."(Rm 8:26), oração intercessora. O ESPÍRITO
SANTO é nosso intercessor aqui na terra. ELE leva nossa oração a JESUS CRISTO
que está assentado à direita de DEUS PAI, intercedendo por nós lá no céu. O pai
recebe a oração e responde de acordo com sua vontade.
4.3.3.
Interpretação de Línguas:
"Que
fazer, pois, irmãos? Quando vos congregais, cada um de vós tem salmo, tem
doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para
edificação. Se alguém falar em língua, faça-se isso por dois, ou quando muito
três, e cada um por sua vez, e haja um que interprete. Mas, se não houver
intérprete, esteja calado (ore tão baixinho que ninguém o note) na igreja, e
fale consigo mesmo, e com Deus."(I Co 14:26-28); "Por isso, o que
fala em língua, ore para que a possa interpretar."(I Co 14:13) Jesus não
falava porque tudo que falava era o que Deus queria falar e as línguas são
sinais da presença de DEUS em nosso meio, JESUS é DEUS.
Paulo:
"Dou graças a Deus, que falo em línguas mais do que vós todos."(I Co
14:18).Não quis dizer latim, grego e hebraico, pois são línguas aprendidas e
faladas no tempo de Paulo por quase todos; o que Paulo quis dizer é que orava muito
em línguas e também que tinha dom de línguas.
Nós
falamos sem aprender, vem de cima, vem de DEUS, não necessitamos que alguém nos
ensine, podemos receber na igreja, na rua, no campo, em casa (como aconteceu
comigo) ou outro qualquer lugar sem interferência de outrem ou por imposição de
mãos de alguém.
5-
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
5.1• Dons, só depois do batismo com o Espírito
Santo.(vaso vazio não transborda)
5.2• O senhorio é de Cristo.(o cabeça do corpo)
5.3• Para glorificação de Deus.(o ESPÍRITO SANTO
glorifica a DEUS)
5.4• Vaso deve estar limpo sempre para o uso
constante.(santificação)
5.5• Nada é de nós mesmos, tudo vem de Deus(nada de
orgulho).
5.6• Todos os dons são para os outros só um para nós
linguagem de oração. (língua que foi batizado)
Paulo e
os Dons
Estudando
sobre a vida do apóstolo Paulo pude confirmar realmente que os nove dons operavam
em seu ministério:
Vamos
ver: -PALAVRA DE SABEDORIA: (pequena parte da sabedoria de DEUS a respeito do
futuro) At 27.22 Mas agora vos admoesto a que tenhais bom ânimo, porque não se
perder] a vida de nenhum de vós, mas somente o navio. - PALAVRA DE
CONHECIMENTO: (pequena parte do conhecimento de DEUS a respeito de algo
conhecido em outra parte, porém não no local revelado) At 27.10 Dizendo-lhes:
Senhores, vejo que a navegação há de ser incômoda, e com muito dano, não só
para o navio e carga, mas também para as nossas vidas. - DISCERNIMENTO DE
ESPÍRITOS: At 16.18 E isto fez ela por muitos dias. Mas Paulo, perturbado,
voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias
dela. E na mesma hora saiu. - FÉ: (Dom necessário para ressurreição de mortos -
crer no impossível) At 20.10 Paulo, porém, descendo, inclinou-se sobre ele e,
abraçando-o, disse: Não vos perturbeis, que a sua alma nele está. – Milagres ou
Maravilhas (Agindo sobrenaturalmente na natureza) At 28. 5 Mas, sacudindo
ele a víbora no fogo, não sofreu nenhum mal. – DONS DE CURAR: At 28. 8 E
aconteceu estar de cama enfermo de febre e disenteria o pai de Públio, que
Paulo foi ver, e, havendo orado, pôs as mãos sobre ele, e o curou.
-
PROFECIA (Edificação, Exortação e Consolação) Ts 4.13 Não quero, porém, irmãos,
que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais,
como os demais, que não têm esperança. – DOM VARIEDADE DE LÍNGUAS: 1 Co 14. 18
Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos – DOM DE
INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS: 1 Co 14. 13 Por isso, o que fala em língua
desconhecida, ore para que a possa interpretar (Este não está claro, porém por
dedução, como estava ensinando, muito provavelmente era o que acontecia com ele
próprio).
Ev.Luiz
Henrique de Almeida Silva
ATUALIDADE
DOS DONS ESPIRITUAIS
Luiz Antonio Ferraz / outubro de 1995
INTRODUÇÃO
Os Nove
Dons Extraordinários
Neste
trabalho, nos propomos a demonstrar a atualidade dos dons espirituais.
Desejamos comprovar que os dons extraordinários não cessaram com a ultimação do
Novo Testamento. Segundo alguns expoentes, os dons dividem-se em ordinários e
extraordinários. Na primeira classificação incluem-se os dons de natureza
comum. Na segunda encontramos aqueles dons de caráter sobrenatural. Na opinião
de muitos eruditos, alguns desses dons de natureza sobrenatural cessaram quando
o Novo Testamento foi completado. Esses dons extraordinários são aqueles nove
alistados em I Coríntios 12:8-10: (1) palavra da sabedoria, (2) palavra do
conhecimento, (3) fé, (4) curas, (5) operação de milagres, (6) profecia, (7)
discernimento de espíritos, (8) variedade de línguas, (9) interpretação de
línguas. Afirma-se que nos dias de hoje não devem existir esses dons, porque
eles tinham a função de causar efeito, autenticar a mensagem apostólica e
servir de sinal para a inauguração de uma nova era que estava surgindo no plano
dispensacional de Deus.
Para
levar a efeito nosso propósito, dividimos este ensaio em dois capítulos. Na
primeira parte apresentamos os pressupostos filosóficos que devem ser vistos
como evidências, e não como provas, da atualidade dos dons extraordinários. É
importante salientar que, toda vez que utilizarmos a expressão "dons
extraordinários" neste trabalho, estaremos nos referindo aos nove dons
alistados em I Coríntios 12:8-10. A segunda parte traz argumentos
escriturísticos extraídos das Sagradas Escrituras (Basearemos nossos argumentos
em uma única passagem bíblica: a passagem clássica de I Coríntios 13:8-13 onde,
alguns supostamente encontram elementos para negarem a atualidade dos dons
extraordinários). Obviamente, nas Escrituras reside nossa melhor força
argumentativa, pois é dela que extraímos o material mais apropriado, sem,
contudo, desprezarmos as fontes extrabíblicas, pois estas trouxeram grande
contribuição a este trabalho. Reconhecemos, entretanto, que qualquer outra
fonte, por melhor que seja, seria inútil se estivesse desassociada do
reconhecimento da superioridade, inerrância e infalibilidade das Escrituras
Sagradas. É, pois, da análise da Bíblia que ousamos apresentar provas
incontestáveis da atualidade dos dons extraordinários. A filosofia nos foi
muito útil, mas apenas como ferramenta de apoio, e não como prova cabal. A
filosofia demonstra as evidências. As Escrituras comprovam os fatos.
Apesar da
suficiência das Escrituras, era nosso desejo enriquecer este trabalho com
outras fontes, além dos argumentos filosóficos. Gostaríamos de ter apresentado
os fatos históricos, o que certamente abrilhantaria esta tese. Mas a escassez
de tempo e espaço nos obrigou a limitarmos nosso trabalho em apenas duas
fontes.
Não temos
a pretensão de sermos inéditos, pois em toda parte podemos encontrar, com certa
profusão, obras sobre o assunto. Também não pretendemos esgotar este tema, pois
homens com mais capacidade do que nós escreveram obras com superior qualidade.
Neste sentido nosso trabalho está muito aquém da obra destes eruditos, e não
poderemos satisfazer plenamente aqueles que, eventualmente, desejem uma análise
mais profunda sobre este tema. Naturalmente, cremos que ainda outros surgirão,
pois para os mistérios de Deus nunca haverá uma palavra definitiva. Nenhum ser
humano pode, hoje, arrogar para si o múnus de falar em nome de Deus. Embora
tenhamos, num certo sentido, "inspiração" da parte do Espírito de
Deus, devemos saber que "...nenhuma profecia da Escritura provém de
particular elucidação..." (II Pe.1:20).
CAPÍTULO I - ARGUMENTOS FILOSÓFICOS
Os
argumentos filosóficos são aqueles que se relacionam com o saber humano à parte
da revelação divina. O campo da filosofia são as diversas áreas do
conhecimento, pois ela trabalha tanto com o conhecimento teórico quanto com o
conhecimento experimental, e a relação existente entre estes dois universos.
I.
EPISTEMOLÓGICO
O
primeiro argumento filosófico que examinaremos é o epistemológico. "A
epistemologia é o campo da filosofia que investiga a natureza e a origem do
conhecimento.1
A
epistemologia estuda como sabemos.2
" Na
área da epistemologia devemos fazer as seguintes perguntas: "Como
conhecemos alguma coisa? Quando é justificada a alegação de que alguém sabe? É
possível o conhecimento indubitável (certo) acerca de qualquer coisa"?3
Para respondermos
à pergunta "como podemos conhecer"? devemos analisar as nossas fontes
de conhecimento ou a origem de nossas crenças. As seguintes fontes serão aqui
analisadas: o testemunho de outras pessoas, a intuição (usada aqui no sentido
de instintos, sentimentos, e desejos), o raciocínio, e a experiência sensória.
Estas fontes levam a cinco lógicas ou critérios para validar as crenças. São
elas a fé ou o autoritarismo, o subjetivismo, o racionalismo, o empirismo, e o
pragmatismo.
1.
AUTORITARISMO: Esta fonte baseia-se no testemunho de autoridades. Começamos nossa
aprendizagem ao aceitar as crenças da nossa família. Posteriormente aceitamos o
que nos é dito por nossos professores e amigos. Ainda depois de formados,
dependemos do testemunho de livros, jornais, etc. Aceitamos todas essas fontes
quando acreditamos serem elas boas. Desse modo delegamos autoridade às fontes
que acreditamos fidedignas. Essa autoridade tem origem em 4 elementos:
1.1. O
Prestigio da Autoridade: As autoridades evangélicas que defendem a
atualidade dos dons extraordinários são pessoas de prestígio. Elas gozam de
nossa confiança, e não somente da nossa, mas até mesmo da de seus oponentes.
Portanto, a palavra desses irmãos, homens de erudição comprovada, tem um peso
decisivo sobre nossas crenças. Algumas autoridades que podemos citar são: D. M.
Lloyd Jones, John R. W. Stott, Ray C. Stedman, David Yonggi Cho, C. P. Wagner,
Caio Fábio D'Araujo Filho, entre outros.
1.2. O
Número de Defensores: O grande número de pessoas que defendem a atualidade
dos dons é algo que deve ser levado em conta. Se os dons extraordinários
tivessem cessado, então grande multidão de evangélicos estariam sendo
enganados. Será que Deus permitiria tal coisa?
1.3. A
Persistência na Crença: Apesar dos ataques que vem sofrendo ao longo da
história, a crença nos dons extraordinários tem persistido até o presente. Se
os dons extraordinários manifestados imediatamente após o período apostólico,
as manifestações históricas contemporâneas, bem como as atuais da era moderna,
fossem de fato falsificações, há muito elas teriam desaparecido da lembrança do
povo evangélico. Ele não fariam nenhuma questão de ressuscitá-las.
1.4. A
Antiguidade da Crença: A crença nos dons extraordinários não é nenhuma
inovação da Igreja Moderna. Ela existe desde o nascimento da Igreja; tem o sêlo
apostólico como garantia, bem como a autenticação do Espírito Santo nas suas
mais diversas operações através da Igreja.
2.
Subjetivismo: Temos
aqui o argumento baseado na intuição, isto é no sentido dos instintos,
sentimentos e desejos. Isto não significa que nossas crenças acerca da
realidade dos dons extraordinários tem sua origem em dados dos sentidos ou
coisas semelhantes, mas, sim, através de nosso contato imediato com o
conhecido. Portanto este elemento pressupõe que o conhecedor tenha algum tipo
de contato direto com o que é conhecido, ou seja com o objeto da crença, que no
nosso caso, são os dons extraordinários. Para melhor elucidação também
classificamos o subjetivismo em duas categorias: realismo direto e misticismo.
2.1.
Realismo Direto ou do Bom Senso: É o ponto de vista concebido pelo homem comum, sem
qualquer reflexão filosófica, porém caracterizada pelo bom senso e bom juízo.
Pessoas psiquicamente sadias não ousariam defender uma experiência subjetiva se
de fato não acreditassem nela. Pode ser que estivessem enganadas, mas não por
muito tempo. Pode ser que alguns se enganassem, mas não todos. Uma experiência
subjetiva, isto é, pessoal, interior, é algo que costuma ficar gravado no
espírito pelo resto de nossas vidas, principalmente se esta tem sua origem na
pessoa do Espírito Santo de Deus. Este fato deve ser considerado como evidência
de que o Espírito Santo ainda opera extraordinariamente, através dos dons, em
nossos dias.
2.2.
Misticismo: É o
subjetivismo supra-racional, que tem a ver com o conhecimento de Deus.
Certamente podemos conhecer a Deus, e de fato o conhecemos, mas alguns
conhecimentos estão além da razão humana. É o caso também dos dons
extraordinários, que conhecemos hoje em parte, mas não o compreendemos
totalmente. A experiência mística de muitos irmãos comprovam a atualidade dos
dons extraordinários.
3.
Racionalismo: Este
elemento aponta para a razão, para aquilo que é cognoscível. Há boas razões
para acreditarmos nos dons extraordinários para hoje. Os próprios argumentos
deste trabalho se constituem em algumas destas razões.
4.
Empirismo: Aponta
para o elemento baseado mais na experiência do que na razão. É claro que a
experiência de um cristão não deve servir como padrão para autenticação dos
dons, mas o grande número de experiências sentidas por tantos cristãos, servem
para evidenciar que algumas delas são pelo menos genuínas. Já que o empirismo
se baseia na experiência, é óbvio supor que esta se serve dos sentidos e daquilo
que se descobre com eles.
4.1.
Sentidos Físicos: Visão, olfato, audição, tato e paladar. Relatos de experiências
espirituais envolvendo a visão é a mais comum que encontramos. Mas também já se
ouviu falar de manifestações envolvendo a audição, o olfato e outros sentidos.
4.2.
Sentidos Emocionais: Inúmeros irmãos têm sido tocados em suas emoções,
quando as operações espirituais do Espírito Santo de Deus se manifestam.
Deveríamos mesmo acreditar que essas experiências foram apenas produto da
emoção humana? Não seriam de fato o resultado da operação do Espírito? Quando
Deus se manifesta, homem algum pode resistir a ponto de permanecer
emocionalmente estático.
5.
Pragmatismo: Este
argumento considera a funcionalidade, utilidade e resultados práticos do objeto
conhecido.
5.1.
Funcionalidade: Os dons que conhecemos funcionam mesmo?
5.2.
Utilidade: Os dons
são realmente úteis?
5.3.
Resultado: Os dons
extraordinários de hoje têm bons resultados práticos?
II. METAFÍSICO
II. METAFÍSICO
Este nome
provém de uma palavra grega que significa "depois da física". Através
do uso do termo este veio a significar "além" do físico. Daí, a
metafísica, para alguns filósofos, "é o estudo do ser ou da
realidade."4
Enquanto
que a epistemologia ocupa-se com as capacidades e as limitações de quem sabe,
"a metafísica trata da existência e da natureza daquilo que é
sabido."5
A
metafísica considera, pois, as qualidades e os relacionamentos das coisas
conhecidas, ou seja: a realidade. De que forma então podemos conhecer
realisticamente (metafisicamente) os dons extraordinários? Só podemos conhecer
o desconhecido por intermédio do que conhecemos, o real desconhecido pelo real
desconhecido, o irreal desconhecido pelo irreal desconhecido. Só podemos
conhecer aquilo que é verdadeiro por meio daquilo que não é verdadeiro. Logo
podemos conhecer a realidade verdadeira por meio da realidade falsa. Conhecemos
muito bem as falsificações demoníacas, e por meio delas podemos conhecer a
verdadeira manifestação de Deus. Se existe o falso, necessariamente deve também
existir o verdadeiro. A realidade dos falsos dons extraordinários, comprovam a
existência dos verdadeiros dons extraordinários.
CAPÍTULO II - ARGUMENTOS
ESCRITURÍSTICOS
Os
argumentos escriturísticos são aqueles baseados na revelação de Deus, em sua
palavra escrita, isto é nas Sagradas Escrituras.
I. EXEGÉTICO
I. EXEGÉTICO
O
argumento exegético baseia-se na interpretação do texto bíblico original. Para
este trabalho utilizaremos a passagem de I Coríntios 13:8-13, que tem sido
usada por muitos comentaristas para defender a negação dos dons extraordinários
neste tempo presente. Um destes comentarista é B.
F. Cate, autor do livro "The Nine Gifts of the Spirit. Are not in the
church today" (Os Noves dons do Espírito. Não se manifestam na igreja no
dia de hoje). Veremos então a interpretação de B. F. Cate, e, em seguida
apresentaremos nossa exegese do texto em questão.
1. A
Visão de B. F. Cate de I Coríntios 13:8-13: Cate inicia o primeiro capítulo
de seu livro fazendo esta pergunta: "Os Nove Dons: Quando Cessaram
Eles?" Em seguida passa a argumentar da seguinte maneira: "Paulo diz:
'O amor jamais acaba.' Isto implica que os dons acabariam; portanto, ele
prossegue dizendo: 'mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas,
cessarão; havendo ciência, passará; porque em parte conhecemos e em parte
profetizamos (versículo 8 e 9). a razão por que eles só conheciam em parte era
que então ainda ainda não estava completamente revelado aquilo do Novo
Testamento que agora está escrito. 'Quando, porém,' diz Paulo, 'vier o que é
perfeito (a ultimação do Novo Testamento), então o que é em parte (profecia,
etc.) será aniquilado' (versículo 10). Depois ele ilustra isso dizendo: 'Quando
eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino;
quando cheguei a ser homem, desisti das cousas próprias de menino' (versículo
11). Nos dias primitivos da presente dispensação, quando foi escrita esta
epístola, eles eram como meninos; mas estava aproximando-se rapidamente o tempo
quando desistiriam 'das cousas próprias de menino' (os nove dons), e andariam
pela fé no 'caminho sobremodo excelente' do 'amor' e na luz da completa
revelação de Deus.
"Paulo
ilustra novamente, dizendo: 'Porque agora (quando esta epístola foi escrita)
vemos como em espelho, obscuramente (em parte conhecemos), então (quando a
revelação de Deus ao homem fosse completada) veremos face a face; agora conheço
em parte, então conhecerei como também sou conhecido' (versículo 12). Conhecer
'como também sou conhecido,' significa: nós, agora que a revelação de Deus está
completa, não mais 'em parte conhecemos,' mas conhecemos a mente de Deus (para
esta dispensação) tal como Ele conhece nossa mente."6
Cate
prossegue dizendo: "Existem alguns que encontram dificuldade em ver que 'o
que é perfeito' em I Coríntios 13:9,10 refere-se à perfeição (ultimação) da
revelação de Deus para a era da igreja. Paulo, ao demonstrar que 'o amor jamais
acaba,' mas que os nove dons cessariam quando o Novo Testamento chegasse à sua
ultimação, refere-se apenas a três deles como exemplo do todo (versículo 8).
Depois, nos versículos 9 e 10 ele reduz isto a um único dom - o da profecia -
como um exemplo do todo. Vejamos mais uma vez o que dizem estes versículos:
'Porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos. quando, porém, vier o que
é perfeito, então o que é em parte (profetizar) será aniquilado.' Paulo não
está falando a respeito da perfeição dos santos; está falando a respeito da
perfeição da profecia. Demonstra assim que o dom de profecia deveria cessar
quando a revelação de Deus para a era da Igreja chegasse à perfeição."7
Esta é a
visão de Cate. Com amor e respeito àqueles que pensam dessa forma, passaremos a
contra-argumentar esta posição. Nós cremos que, na passagem, Paulo fala da
perfeição dos santos, e defenderemos esta tese, porque se o fizermos, ficará
também demonstrado que os dons extraordinários existem hoje. Isto porque Paulo
deixa claro, na passagem, que os profetas deveriam profetizar 'em parte' até
que viesse 'o que é perfeito.' Portanto, se 'o que é perfeito' ainda não veio,
então nós ainda temos profetas profetizando 'em parte' ainda hoje.
2. Uma
Análise de I Coríntios 13:8-13: Nesta passagem analisaremos os vocábulos
"perfeito", "quando", "agora", "então"
e "conhecer".
2.1. O
Perfeito do Versículo 10: O termo grego usado em I Coríntios 13:10 é teleio
(téleios).Esta palavra pode ser traduzida de várias maneiras: (1)
"perfeito", referindo-se à coisas (Rm.12:2; ICo.13:10; Tg.1:4,17,25;
Hb.9:11, IJo.4:18, etc.); (2) "perfeito", referindo-se à pessoas, com
o sentido de "maduro" ou "adulto" em sentido moral e
espiritual (Mt.5:48; 19:21; Fp.3:15; Cl.1:28; ICo.2:6; 14:20; Ef.4:13;
Hb.5:14); (3) "perfeito", referindo-se à Deus em sua perfeição
absoluta (Mt.5:48).8
No
versículo 10 de I Coríntios 13, o termo grego teleion (téleion) é
"adjetivo pronominal, nominativo, neutro, singular."9
De acordo
com isto, a tradução correta do texto deveria ser: "quando. porém, vier aquilo
que é perfeito, então aquilo que é em parte será aniquilado." Isto
porque este adjetivo, na língua grega, não é feminino nem masculino, mas está
no gênero neutro. Portanto, o argumento de Cate, de que "o que é perfeito
em parte" se refere a profecia, se desfaz; e isto por duas razões: (1) A
palavra grega profecia, usada no versículo 8 (profhteia = profeteía), é
"substantivo, nominativo, feminino, plural."10
Se a
palavra "profecia" é feminina, então "aquilo que é
perfeito" também deveria estar no gênero feminino para concordar, mas não
está. (2) Se "o que é perfeito" fosse a revelação profética
completada pelo Novo Testamento, então "o que é perfeito em parte," a
revelação profética do Antigo Testamento, teria sido aniquilada. De fato o
Antigo Testamento foi aperfeiçoado ou completado pelo Novo Testamento, mas de
forma alguma ele foi aniquilado ou cessou em seus efeitos. Jesus disse que
nenhuma profecia do Antigo Testamento cessaria até que tudo se cumprisse
(Mt.5:18). Jesus não disse que a lei cessaria até que tudo fosse revelado (a
revelação do Novo Testamento), mas até que tudo se cumprisse. Como poderia o
Antigo Testamento ter sido aniquilado se ainda há muitas profecias para serem
cumpridas? "...a Escritura não pode falhar." (Jo.10:35).
Cremos
que a palavra "perfeito" contém nesta passagem a idéia do fim ou do
objeto consumado ou completado, pois de acordo com o contexto da epístola,
Paulo, logo adiante, no capítulo 15, passa a tratar da ressurreição. Em I
Coríntios 15:24 o apóstolo diz: "...então virá o fim..." A
palavra fim é telo (télos). Portanto deve referir-se à ressurreição ou
perfeição dos santos na consumação, quando toda a profecia terá sido
completada, finalizada ou aperfeiçoada11
(Lc.22:37)
e a fé terá o seu fim, quando deixaremos de ver por enigma, e veremos face a
face ao Nosso Salvador: "(Cristo) a quem, não havendo visto, amais; no
qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de
glória, obtendo o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas." (I Pedro
1:8,9).
Uma
passagem esclarecedora pode ser encontrada em Romanos 10:4, onde lemos que
"...o fim ( télos) da lei é Cristo...". Óbviamente a lei não
teve seu fim (ela não foi aniquilada, veja Mt.5:17), mas ela foi aperfeiçoada
por Cristo: "Anulamos, pois, a lei, pela fé? Não, de maneira nenhuma,
antes confirmamos a lei." (Rm3:31). Pela nossa fé em Cristo, a lei está
sendo, em nós, confirmada e aperfeiçoada, até que chegue a ressurreição, quando
deixaremos de andar por fé (IICo.5:7) para andar por vista, pois veremos Cristo
face a face: "...quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele,
porque havemos de vê-lo como Ele é."(I João 3:2). Na ressurreição
alcançaremos nossa perfeição espiritual, deixaremos de ser meninos, e
conheceremos plenamente a Cristo, como dEle somos conhecidos: "...até que
todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à
perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que
não mais sejamos como meninos..." (Ef.4:13,14). O contexto desta passagem
diz que Cristo "...concedeu dons aos homens... até que todos cheguemos à
unidade da fé..." (vv.8,13). De acordo com este contexto, os dons de
Cristo devem durar até que se completem as observações feitas por Paulo
no versículo 13. Neste sentido, nem mesmo o dom de apóstolo, mencionado no
versículo 11, teria cessado.
2.2. O
Quando do Versículo 10: A palavra quando usada neste versículo é traduzida
do grego otan (hótan). Este termo é uma "partícula temporal"
que pode ser traduzida por "no tempo que."12
Portanto
o versículo está dizendo que "o que é perfeito em parte" somente será
aniquilado "no tempo que vier o que é perfeito," e esse tempo ainda é
futuro, pois hótan se refere a "um tempo definido e
específico." Esse tempo definido e específico era futuro para o apóstolo
Paulo, quando ele escrevia a epístola, e ainda hoje, é futuro para nós.
2.3. O
Quando do Versículo 11: O quando deste versículo, no grego, não é hotan,
como no versículo anterior, mas ote (hóte), que também é uma
"partícula temporal,"13 mas se refere a um tempo indefinido, pois
Paulo não estava falando da época em que ele era criança, mas de um tempo
indefinido, ao qual ele chama de "tempo de menino," que ele usa para
contrastar com o tempo definido pela vinda daquilo que é perfeito.
2.4. O
Agora do Versículo 12: Esta palavra aparece duas vezes no versículo 12,
como tradução do vocábulo grego arti (arti). Trata-se de um advérbio,
com sentido de "já, imediatamente, no presente, presentemente," como
é utilizado em Jo.9:19,25: I Pe.1:6,8. "No grego helenístico o sentido é
ampliado para referir-se ao presente em geral."14
Segundo
Grosheide, arti expressa "um contraste entre esta dispensação e a
futura."15
De acordo
com isto, o agora do versículo 12 não expressa apenas o tempo do apóstolo Paulo,
quando a epístola foi escrita por ele, mas também o tempo presente, até o final
da presente dispensação.
2.5. O
Agora do Versículo 13: A palavra agora deste versículo é traduzida do
grego nune (nune), que pode também ter a idéia de tempo (At.22:1; 24:13;
Rm.3:21; Ef.2:13; etc.), mas no versículo em questão, foi usado com sentido
lógico e não temporal, como é usado em I Co.5:11; 15:20; Hb.9:26; etc. Nesses
casos, a idéia de tempo é "enfraquecida ou totalmente ausente" e deve
ser melhor traduzida por "porém, mas, ora."16
Nesse
sentido o que o apóstolo está dizendo é que neste tempo presente ainda
"vemos como em espelho, obscuramente," porque vemos por meio da fé
(II Co.5:7), e da esperança (Rm.8:24,25) que "é a certeza das cousas que
se esperam, a convicção de fatos que se não vêem." (Hb.11:1).
"Logo..." - diz o apóstolo - "...permanecem a fé, a esperança e
o amor..." (v.13). Estas três virtudes são necessárias para haver o
conhecimento de Deus. A fé e a esperança nos concedem um conhecimento parcial
(Rm.1:17; Ef.3:17-19; IITm.3:15), por isso cessarão, quando o conhecimento
completo vier. O amor, porém permanecerá pela eternidade, quando vier o que é
perfeito, pois o amor "...é o vínculo da perfeição." (Cl.3:14).
2.6. O
Então do Versículo 12: A palavra grega para este vocábulo é tote
(tóte). Este advérbio indica tempo, e está em conexão com o
"quando" do versículo 10, que também é temporal. Segundo o léxico,
deve ser traduzido por "naquele tempo."17
2.7. O
Verbo Conhecer dos Versículos 9 e 12: Este verbo aparece quatro vezes no texto. Nas duas
primeiras ocorrências, é usado o verbo grego gnwskw (gnôskô): "...em
parte conhecemos..."(v.9), "...agora conheço em
parte..."(v.12). Nas outras duas ocorrências o verbo grego é
preposicionado com o prefixo grego epi (epi): epignwskw (epignôskô): "...então
conhecerei como também sou conhecido..."(v.12). O prefixo
adicionado ao vocábulo dá um sentido pleno ao verbo. A Nova Versão
Internacional do Novo Testamento traduz com mais exatidão o versículo 12:
"Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas,
então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei
plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido."18
Note que
na primeira ocorrência, Paulo acrescenta as palavra "em parte" ao
verbo conhecer, porque o seu conhecimento, quando ele escrevia a epístola era
parcial. Mas ele diz que, no tempo (então) em que viesse aquilo que é perfeito,
ele veria face a face e teria o pleno conhecimento. Barrett diz que "As
palavras apresentam a inadequação do atual conhecimento humano de Deus, em
contraste com o conhecimento que Deus tem do homem e o conhecimento de Deus que
os homens terão na era futura."19
É claro
que Paulo não atingiu o pleno conhecimento. Ele caminhava com esfôrço na vida
cristã, para obter o melhor nível de perfeição, mas sabia que seria impossível
atingí-lo nesta vida: "...para o conhecer e o poder da sua ressurreição...
para de algum modo alcançar a ressurreição dentre os mortos. Não que eu o tenha
já recebido, ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar
aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a
mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma cousa faço: esquecendo-me das cousas
que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para
o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Todos, pois,
que somos perfeitos (maduros até um certo nível), tenhamos este sentimento; e,
se porventura pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá. Todavia,
andemos de acordo com o que já alcançamos."(Fp.3:10-16). Entretanto quando
Paulo estava para morrer, sabendo que iria encontrar-se com o Senhor face a face,
ele escreveu: "Combati o bom combate, completei (telew = teléô =
aperfeiçoei) a carreira, guardei (threw = têréô = permenecí fiel) a
fé."(II Tm.4:7). O sentido de teléo neste verso é: "terminar,
completar, chegar ao alvo."20
O que é
verdade para Paulo, também é para nós. Nenhum cristão hoje ousa dizer que tem o
pleno conhecimento de Deus ou das coisas de Deus. Paulo, que não atingiu esse
nível, possuía muito mais conhecimento do que nós que temos a Escritura
completa. é certo que podemos ter um pleno conhecimento subjetivo da verdade
(IITm.2:25), mas o conhecimento pleno, objetivo e absoluto, só a deus pertence
(Dt.29:29). Portanto "...conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor:
como a alva a sua vinda é certa..." (Os.6:3), porque "...a
vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviaste... Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei
conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles
esteja." (Jo.17:3,26).
II. HERMENÊUTICO
II. HERMENÊUTICO
Este
argumento baseia-se nas leis de interpretação do texto bíblico. Não há em todo
o Novo Testamento nenhum texto que diga claramente que os dons extraordinários
cessariam. O único texto que poderia dar alguma margem à esta interpretação é o
de I Coríntios 13: 8-13. Este texto, por ser um pouco obscuro, e de difícil
interpretação, tem sido usado para demonstrar a extinção dos dons
extraordinários para a época posterior à época apostólica. Contudo, uma boa
exegese, como a que acabamos de apresentar, no sub-capítulo anterior, dissolve
toda a dúvida quanto a existência dos dons extraordinários para hoje.
III. PROFÉTICO
III. PROFÉTICO
O
argumento profético tem a ver com o caráter profético da mensagem, do sinal
operado ou propriamente da manifestação do dom extraordinário. O genuíno dom
extraordinário tem que ser puro e santo. Suas asseverações devem ser claras e
exatas, não deixando nenhuma margem à dúvida. Desassemelham-se das
adivinhações, prognósticos, agouros e feitiçarias, com os quais não devem ter
nenhum vínculo, o mínimo que seja (Dt.18:9-14). A palavra profética, por
exemplo, deve acontecer exatamente como foi predita: "Se disseres no teu
coração: como conhecerei a palavra que o Senhor não falou? Sabe que quando esse
profeta falar, em nome do Senhor, e a palavra dele se não cumprir nem suceder,
como profetizou, esta é palavra que o Senhor não disse; com soberba a falou o
tal profeta: não tenhas temor dele." (Dt.18:21,22).
Inúmeros
crentes têm sido beneficiados com a manifestação do genuíno dom extraordinário.
Vidas foram edificadas ao receberem uma palavra profética de edificação,
exortação e consolo (I Co.14:3). Poderia vir de Satanás algo que promovesse o
bem estar dos santos? Certamente que não! "Acaso pode a fonte jorrar do
mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?" (Tg.3:11).
IV. ESPIRITUAL
IV. ESPIRITUAL
Este
argumento, tão importante quanto o profético, baseia-se não no caráter do dom
propriamente, mas no caráter espiritual da pessoa através da qual o dom se
manifesta. Ele se focaliza no instrumento que manifesta o dom, e não na
manifestação do dom. É preciso discernir o caráter da pessoa que fala ou
manifesta algum dom extraordinário. Esta pessoa é séria em sua vida com Deus?
Leva uma vida santa e irrepreensível? É conhecida? Deixa transparecer alguma
suspeita? Tudo isso deve ser levado em conta, mesmo que o sinal por ela
predito, venha a acontecer: "Quando profeta ou sonhador se levantar no
meio de ti, e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou
prodígio, de que te houver falado, e disser: vamos após outros deuses, que não
conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador;
porquanto o Senhor vosso Deus vos prova, para saber se amais o Senhor vosso
Deus de todo o vosso coração, e de toda a vossa alma." (Dt.13:1-3). Deus
permite a manifestação de "...poder, e sinais e prodígios da
mentira..." (II Ts.2:9), para enganar aqueles que "...não acolheram o
amor da verdade..." (II Ts.2:10). Portanto, todo sinal ou dom
extraordinário, por mais portentoso que seja, que contraria a verdade da palavra
de Deus deve ser rejeitado porque não vem de Deus. O Novo Testamento apresenta
um caso interessante o nosso para exame. Diz a bíblia que "..indo nós para
o lugar da oração, nos saiu ao encontro uma jovem possessa de espírito
adivinhador... seguindo a Paulo e a nós, clamava dizendo: estes homens são
servos do Deus Altíssimo, e vos anunciam o caminho da salvação..."
(At.16:16,17). Note que nesta passagem tudo que o espírito dizia acerca de
Paulo e seus companheiros era verdade, porém tratava-se de um espírito
adivinhador, isto é, um demônio que "...adivinhando, dava grande lucro aos
seus senhores." (At.16:16). Paulo tratou logo de expulsar aquele espírito
(At.16:18) para proteger a pureza de sua mensagem, a qual ele anunciava
gratuitamente, sem fins lucrativos, para que os seus ouvintes não a
considerassem equivalente à mensagem que aquele espírito anunciava.
Temos
encontrado homens seríssimos em sua vida com Deus. Estes têm servido de
instrumentos nas mãos divinas, como canais de manifestação de dons extraordinários.
Se rejeitarmos a existência dos dons extraordinários, teríamos que rejeitar a
muitos homens e mulheres de Deus.
CONCLUSÃO
Nesta
conclusão queremos salientar uma palavra final sobre o texto de I Coríntios
13:8-13, muito usado por nossos oponentes para negar a atualidade dos dons
extraordinários, e, por nós, para defender a sua existência. Reconhecemos
algumas dificuldades que a passagem apresenta. Paulo não diz claramente o que é
"o perfeito." Dissemos neste trabalho tratar-se, o perfeito da ressurreição.
Alguns têm afirmado tratar-se da vinda de Jesus; outros, por sua vez, dizem que
é o amor. Todas essas posições trazem dificuldades. A ressurreição (anastasi
= anástasis) vinda(parousia = parousía), e o amor (agaph = agápê)
são palavras femininas, enquanto que a palavra perfeito (telo = télos)
está no gênero neutro. Talvez pudéssemos dizer, referindo-se à ressurreição,
que Paulo estava falando do evento da ressurreição, do seu fenômeno. Daí
teríamos uma possível solução. O mesmo se poderia dizer em relação à vinda de
Cristo.
Uma
coisa, porém, podemos afirmar sem vacilar. Aquilo que é perfeito não é a
profecia do Novo Testamento, como afirmou B. F. Cate. Isto demonstramos ao
longo deste ensaio. Nós acreditamos que o perfeito é o conjunto de todas estas
coisas: a vinda de Jesus, seu amor completado em nós, a ressurreição, o
cumprimento das promessas futuras, encontradas nas Escrituras, que virão na
consumação desta era. Todos estes elementos, é claro, não poderia ser
gramaticalmente descrito por uma só palavra, masculina ou feminina. Paulo
vinculou o todo à uma só palavra: "o perfeito," e esta, para
descrever tantas perfeições de Deus, só poderia estar no neutro, porque se
refere à muitas coisas.
De
qualquer forma, seja o que for o perfeito, claro ficou que ele ainda não veio,
e mesmo que não saibamos o que possa ser (esta nossa dificuldade prova que não
conhecemos plenamente hoje), é fato inegável que os dons extraordinários não
cessaram.
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